domingo, 25 de setembro de 2016

Refrigerantes: questão de saúde pública

Já é de conhecimento geral a epidemia de doenças metabólicas em que vivemos, das quais se destacam a obesidade e o diabetes mellitus tipo 2. O estilo de vida moderno, caracterizado por sedentarismo e alimentação inapropriada, é o grande responsável pelo aumento dessas patologias. A estratégia de combate à obesidade e ao diabetes envolve medidas comportamentais tomadas pela própria população e medidas socioambientais que podem contar com o suporte de políticas públicas.



A alimentação leva em conta não apenas o que se come, mas também o que se bebe. Nos últimos anos, a literatura médica tem trazido cada vez mais informações a respeito dos prejuízos que as bebidas adoçadas artificialmente, sejam elas refrigerantes, sucos industrializados ou isotônicos, podem causar à saúde. Evidências são cada vez mais fortes de que o consumo regular de refrigerantes possa, além de aumentar o peso, causar diabetes, e pior, aumentar a incidência de doenças cardiovasculares como infartos do miocárdio e isquemias cerebrais em cerca de 20%. Só a título de comparação, o cigarro aumenta esse risco em 27%.
Grande parte dessas “novidades” acaba não chegando ao grande público, principalmente devido ao lobby de uma das indústrias mais poderosas do mundo, que muitas vezes está presente até em eventos da classe médica. Em 2016, o principal fabricante de refrigerantes foi considerada a décima terceira marca mais valiosa do planeta segundo o relatório Brandz!
Então, o que fazer para nos “protegermos” dos refrigerantes? Em primeiro lugar, temos de mudar nossos hábitos. Está com sede? Beba água. Ensine sua família, seus filhos e seus amigos a fazer isso e explique as vantagens. Em segundo lugar, e a meu ver uma estratégia de suma importância, exigir políticas que desestimulem o consumo. Veja bem, não estou falando em proibir o consumo, mas, sim, induzir que se consuma menos.
São medidas socioambientais plausíveis para políticas públicas nas diferentes esferas: em nível municipal, exigir que os estabelecimentos de alimentação ofertem água potável da rede (não engarrafada) de forma gratuita, como qualquer país civilizado faz. Em nível estadual, aumentar a carga tributária sobre esse tipo de bebida e, ao mesmo tempo, desonerar opções saudáveis como frutas e verduras. Em nível federal, regular a propaganda, que, aliás, é muito mal-intencionada, pois sempre associa esse tipo de bebida a hábitos saudáveis, e não à obesidade, o que seria mais sensato.
Resumindo, beba menos refrigerantes e ajude outras pessoas a também diminuir o consumo. Além disso, cobre para que seus representantes façam o mesmo. A saúde de todos agradece.

Fonte:
1- Narain A, Kwok CS, Mamas MA. Soft drinks and sweetened beverages and the risk of cardiovascular disease and mortality: a systematic review and meta-analysis. Int J Clin Pract. 2016 Jul 25. doi: 10.1111/ijcp.12841.


Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

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